A guerra
O filme do dia do Euro 2004: a minha avó diz que os espanhóis são uns velhacos e que o Figo está gordo. Agora que já falámos de futebol, voltemos ao cinema, que é o propósito deste blog.
Para hoje escolhemos um filme desse grande e incompreendido cómico chamado Jerry Lewis, adorado na Europa e desprezado/odiado/ignorado pelos americanos. Há quem diga que o Jim Carrey se inspirou nele (acho até que foi ele próprio que disse). Quanto a mim, já gostava de Jerry Lewis muito antes de Jim Carrey ser inventado.
“Onde Fica a Guerra?”
(“Which Way to the Front?)
Ano: 1970
Realização: Jerry Lewis
Elenco: Jerry Lewis (Brendan Byers III/Marechal de campo Erik Kesselring), Jan Murray (Sid Hackle), John Wood (Finkel), Steven Franken (Peter Bland), Robert Middleton (Colonico), Dack Rambo (Terry Love), Willie Davis (Lincoln), Harold Stone (General Buck), Paul Winchell (Schroeder), Sidney Miller (Adolf Hitler) e, para os trekkies, uma aparição especial de George “Mr. Sulu” Takei (Yamashita)
Disponível em VHS no estrangeiro. Pode ser que apanhem este filme numa sessão das cinco da manhã no canal Hollywood
Para mim era um daqueles filmes perfeitos para ver num domingo à tarde e que terei visto algumas cinco ou seis vezes. É incrível como alguns filmes ficam na memória. Este é um dos que me lembro melhor, apesar de já não lhe por a vista em cima há uma boa dezena de anos. E confesso, tenho um fraco por filmes onde os nazis são gozados.
“Onde Fica a Guerra?” é uma espécie de remake cómico daqueles “mission movies” de guerra tão na moda durante os anos 60 e 70 tipo “Os Canhões de Navarone”, “Os Doze Indomáveis Patifes” ou “O Desafio das Águias”. Juntava-se um grupo de homens – condenados à morte, especialistas em várias áreas de combate ou militares com vocação para serviços secretos – para uma missão impossível em teritório inimigo do género rebentar uma barragem, assassinar um general, libertar prisioneiros de guerra ou descobrir os planos da pólvora.
Neste caso foi um bando de rejeitados pelo exército com a missão de assassinar Adolf Hitler. Brendan Byers III (Lewis) é o homem mais rico do mundo mas incapaz para o serviço militar que resolve fazer a sua parte pelos aliados contra os nazis. O plano é tomar o lugar de um alto oficial alemão (que, supresa, é igualzinho a Lewis) e amigo pessoal de Hitler para assassinar o Fuhrer no seu bunker ultraprotegido – é impagável a cena final entre os dois. Como militares, Lewis e a sua troupe não convencem ninguém. Treinam em piscinas de luxo, usam uniformes azuis berrantes (acho que eram azuis, mas a memória pode estar a falhar-me) e disparam com metralhadoras douradas.
Muitos dizem que é um dos piores filmes de Jerry Lewis, que é de mau gosto, que não tem graça absolutamente nenhuma e que só os europeus é que são capazes de gostar. Como europeu, tomo isso como um elogio, embora ache que Jerry teve melhores momentos que este durante a sua carreira – incluindo o sublime filme de Martin Scorsese “O Rei da Comédia”, com Robert De Niro. Naturalmente que o filme foi um fracasso nos EUA e um sucesso na Europa.
Jerry Lewis voltaria ao tema da II Guerra Mundial, mas a coisa não acabou bem. “The Day the Clown Cried” era para ser o filme sério de Jerry Lewis. Antes de Begnini ter alcançado fama e glória internacional com “A Vida é Bela”, Jerry foi para a Suécia filmar a história de um palhaço alemão que é enviado para um campo de concentração onde terá por missão (involutária) de distrair as crianças judias antes de irem para as câmaras de gás. O filme, rezam as crónicas, foi quase o que “Apocalypse Now” foi para Coppola. Jerry teve de enfrentar muitos problemas de produção, incluindo questões sobre os direitos sobre o produto final, que – adivinharam – fizeram com que o filme nunca tivesse conhecido distribuição comercial.
Nas entrevistas que deu sobre o assunto, Jerry manteve firme a sua intenção de lutar pela distribuição do filme e sempre se mostrou do orgulhoso da obra que filmou e que muito poucos viram. O que existe do filme é um “rough cut” não editado e guardado num cofre de uma produtora qualquer. Há quem diga que é uma obra-prima, há que sustente que é um absoluto fracasso. O que se conhece do filme são algumas imagens e o “script”, que podem ser consultados no site
Subterranean Cinema. É um dos filmes perdidos mais famosos de sempre. Gostava de o ver.
P.S. - Voltando ao Euro 2004. O jogo de hoje é, como o Scolari disse, uma guerra e a Espanha é o inimigo. Chamem-me patriota parolo, chamem-me futeboleiro básico, mas gosto de futebol e gosto do meu país. Força Portugal!
Por Eduardo D. Madeira Jr.