Multiópticas ou Optivisão?
Estranharão por certo os habituais leitores de “O Tronco da Teia” este “back to back” de posts aqui nesta pequena sala. Perguntam vocês, como pode Eduardo D. Madeira Jr., eminente cinéfilo e homem da Renascença (o período histórico, não
a rádio), com mil e uma ocupações (a uma é que dá o dinheiro, as outras mil são por prazer), pode escrever dois textos de tão profundo conteúdo, mas ao mesmo tempo de fácil leitura e de fino humor, em dois dias consecutivos? Como é que ele arranja tempo? Ora a resposta é precisamente essa, meus caros amigo, repentinamente, há alguns dias, ficámos com algum tempo livre em mãos (que aproveitámos também para curar um irritante resfriado, daqueles que provocam constantes espirros e incessante produção de mucosidade nasal, vulgo, ranho) e decidimos trabalhar um pouco para vós, fieis leitores, na nossa contínua tarefa de recordar algumas preciosidades do cinema.
O pretexto que nos conduz ao menu de hoje não é muito habitual em “O Tronco da Teia”, mas a sugestão era demasiado irresistível para recusarmos. Numa das nossas deambulações pela blogoesfera (ou blogosfera, nenhum dos dois é reconhecido como palavra pelo diccionário do Microsoft Word), reparámos num pequeno artigo do João Lameira no
Fastio em que o assunto era um filme de um dos nossos cineastas preferidos, “Eles Vivem”, de John Carpenter. Ora, não é muito o nosso hábito fazer citações de outros blogs, nem pretendemos fazê-lo muitas vezes mais, mas o crédito a quem o deve ter, e o João, que já fez o favor de colocar um link de “O Tronco da Teia” (João, o favor está retribuído), não se importará de nós nos apoderarmos da ideia. Aliás, nem é preciso muito para nos porem a falar de um filme de Carpenter, que aliás já fizemos anteriormente com “As Aventuras de Jack Burton nas Garras do Mandarim”.
Portanto, sem mais entretantos, aqui fica “Eles Vivem”, de John Carpenter.
“Eles Vivem”
(“They Live”)
Ano: 1988
Realizador: John Carpenter
Elenco: Roddy Pipper (John Nada), Keith David (Frank), Meg Foster (Holly) e George “Buck” Flower (Drifter)
Disponível em video e DVD
Uma pequena introdução à cinematografia de “Rowdy” Roddy Pipper, um lutador de “wrestling” (a infame luta-livre norte-americana). “Hell Comes to Frogtown” (que em português é qualquer coisa como “O Inferno Vem à Cidade da Rã”), “Immortal Combat” e o imortal “Legless Larry & the Lipstick Lady” (“O Larry sem Pernas e a Mulher do Baton”) são apenas alguns dos títulos seleccionados de Pipper, que antes, antes de se reinventar como actor, ganhava a vida nos ringues de luta-livre a levar e dar porrada. Uma profissão que pode catapultar muita gente para outras ambições. Afinal, Jesse Ventura, também ele um “wrestler, acabou como governador do Estado do Minnesota, isto já para não falar de actores que acabaram por ser políticos, como Arnold Schwarzenegger, Ronald Reagan ou Fernando Poe Jr, considerado o John Wayne das Filipinas, que se candidatou à presidência (prometemos uma posta sobre o assunto no futuro).
Sem olhar para o passado, apenas para o talento, Carpenter escolheu Pipper para o papel principal no seu filme de ficção-científica, como um vagabundo desempregado que tropeça numa invasão extraterrestre de grandes proporções. Tudo porque encontrou uns óculos escuros que lhe permitem ver como o mundo realmente é (tal como uma trip de ácido, ou, pelo menos, é o que dizem), um mundo a preto e branco, povoado por extraterrestre manipuladores que se aproveitam da ganância dos poderosos para explorar a população humana e com os meios de comunicação recheados de mensagens conformistas e a apelar ao consumismo.
Não vamos entrar em grandes debates sobre as críticas sociais sobre a américa implícitas no filme (mas se quiserem utilizar a caixa de comentários para tal, ela está lá para isso), ou dizer, como o João do
Fastio , que o filme é pessimista quanto ao destino do homem e que isso é uma característica comum a muitos filmes do Carpenter. Preferimos, sobretudo, pensar que Carpenter fez um bom filme com um baixo orçamento, com algumas ideias engenhosas, alguns diálogos memoráveis (“I have come here to chew bubble gum and kick ass - and I'm all out of bubble gum”) e uma cena de luta corpo a corpo que dura cerca de dez minutos entre Pipper e Keith David, quase a lembrar a luta de 20 minutos entre John Wayne e Victor McLaglen em “O Homem Tranquilo”, de John Ford.
Tudo bem, admitimos que os “aliens” são mal carpinteirados e o argumento tem alguns buracos, mas tem interpretações muito razoáveis e uma música arrepiante da autoria do próprio Carpenter. E tem uma cena de nú, com a actriz Cibb Danlya a expor os seus seios, naquela que se julga ser a única ocasião em que trabalhou no cinema. Olhem que não foi por causa de aparecer nua, porque não nos pareceu nada má. Mas para a verem, terão de esperar pela última cena do filme.
Para tão pouco dinheiro, é um excelente filme de invasões extraterrestres. Se não acham, vejam o que aconteceu com “Campo de Batalha: Terra” ou “O Dia da Independência”.
Por Eduardo D. Madeira Jr.