Palco da fama
É uma experiência interessante a de cantar num karaoke. Desde os clássicos romântico-melosos do Roberto Carlos, até ao grito de afirmação feminista de Shania Twain “Man I Feel Like a Woman”. Em acessos de puro exibicionismo artístico, já algumas vezes nos sujeitámos às luzes da ribalta de um bar com essa admirável invenção japonesa, algumas vezes com assinalável êxito entre o público presente, outras, enfim… a culpa era do microfone e do sistema de som. Mas sempre com o máximo do bom gosto.
Alguns sucessos de circunstância foram o rap da fusão Run DMC/Aerosmith “Walk this Way”, o hino hooligan futebolístico dos Queen “We Will Rock You”, o rock meio pop dos Dire Straits “Walk of Life” ou a odisseia do freak da Cantareira com a merda na algibeira “Chico Fininho”. Numa dessas ocasiões, até tivemos o privilégio de encerrar uma sessão de karaoke num bar com o “Emoções”, daquele que muitos consideram (segue-se uma expressão polémica, sobre a qual já assistimos a uma acalorada discussão) o Marco Paulo brasileiro. Arrancámos muitos aplausos à audiência e até fomos acompanhados por coro na parte final – acreditamos que não foi para abafar a nossa voz.
O karaoke terá surgido no Japão há cerca de 30 anos e a palavra significará orquestra vazia. Consiste em alguém sedento de protagonismo subir a um palco e cantar a sua música preferida acompanhado pela parte instrumental enquanto vai lendo a letra num ecrã. Depois de anos a ouvir mil e uma versões do “Feelings” (entre as quais o general indonésio Viranto) e do “My Way” (poupa-nos Herman José), podemos agora assistir a candidatos a actores debitarem os diálogos dos seus filmes preferidos. Falamos, naturalmente do MovieOke, e o local onde surgiu foi, como não podia deixar de ser, os EUA, mais precisamente, em New York City.
A ideia pertence a Anastasia Fite, uma empreendedora dona de um bar/cave novaiorquino e é muito simples. Pega-se num DVD, tira-se o som, colocam-se as legendas e toca a recitar num palco, como se de uma sessão do “Pátio da Fama” (lembram-se?) se tratasse. Podem ser cenas individuais, em conjunto e quem quiser pode até cantar músicas dos filmes ou imitar uma cena de dança. A própria Anastasia, segundo rezam as crónicas, vai entretendo o público com uma exibição daquela cena da Jennifer Beals no “Flashdance”.
Por certo, o MovieOke vai gerar o mesmo tipo de atitude. Vai sempre haver aquele que irá todas as noites recitar a duas vozes o “We’ll always have Paris” de “Casablanca” e o “I love the smell of napalm in the morning” do “Apocalypse Now” arrisca-se a ser o equivalente MovieOke do “Greatest Love of All” da Whitney Houston. De qualquer forma, a ideia arrisca-se a ser um êxito e Anastasia já a pantenteou, estando nesta altura em negociações com os diferentes estúdios para elaborar DVD de compilação de pequenas cenas.
O local, anotem nas vossas agendas, chama-se “Din of Cin” e fica no “downtown” novaiorquino. As sessões de MovieOke são às quartas-feiras. Se decidirem viajar a Nova Iorque nos próximos tempos, aqui deixamos uma sugestão. Peçam para fazer uma cena de um filme do mestre Manoel de Oliveira (é provável que tenham de levar o DVD), seja do “Non, ou a Vã Glória de Mandar” –“O homem fez-se para guerrear” – ou de “Vale Abraão”: “- Disparate… Vou-me casar e nem sequer gosto dele. - Ora a menina lembra-se de dizer cada despropósito.”
Por Eduardo D. Madeira Jr.